Envolta em inúmeros mistérios a Maçonaria é motivo de muita curiosidade, mitos e lendas. Com o decorrer do tempo o imaginário coletivo atribuiu a ela elementos que jamais estiveram presentes ou, por outro lado, negou outro tanto que são permanentes. Em ambos os casos não é nada difícil detectar-se interesses (nem sempre louváveis) que pleiteiam atendimento, quer gradualmente, quer de forma mais imediata. Uma das teorias sobre a origem da Maçonaria refere-se à construção do Templo de Salomão, por volta do século V antes de Cristo, quando este rei contratara o arquiteto Hiram Abif, mestre em entalhar pedras, que ensinou a poucos privilegiados esta arte. Ao término da obra três artesãos exigiram que lhes contasse os segredos e, diante de sua recusa, foi assassinado, mas tal teoria nunca foi comprovada. Há teses que defendem sua origem no Egito dos faraós ou na Grécia Antiga. Mas foi na Idade Média que se estabeleceu comprovadamente. De acordo com vários historiadores sua origem remonta as corporações de mestres-pedreiros construtores de igrejas e catedrais constituídas na Idade Média (guildas). Porém, de acordo com outros historiadores, a Maçonaria foi influenciada pela Ordem dos Cavaleiros Templários (Soberana Ordem dos Cavaleiros do Templo de Jerusalém), a mais importante ordem religiosa militar do período medieval. De qualquer maneira é uma instituição muito antiga, sólida e muito mal compreendida até mesmo pelos seus mais ferozes adversários.
A partir de 1646 foi organizada uma sociedade com o objetivo de construir o Templo de Salomão, templo ideal das ciências. Elias Ashmole (1617-1692), antiquário, político, oficial de armas e estudante de astrologia e alquimia britânico, obteve permissão para que a sociedade realizasse suas reuniões no Templo Maçônico. De pouco em pouco, os elementos precedentes da Fraternidade Rosa Cruz (Instituição secreta que presumidamente dedicava-se ao estudo do esoterismo, alquimia, teosofia e outras ciências ocultas) passaram a preponderar na Maçonaria, introduzindo nela muito de seus símbolos. Alteraram os rituais, sobretudo a parte referente à iniciação. Inicialmente a hierarquia maçônica estava restrita a aprendiz e companheiro, o título de mestre era concedido apenas aquele que dirigia uma construção. Ashmole criou o grau de Grão-Mestre firmando a hierarquia da sociedade. No final do século XVI a Maçonaria abriu suas portas para qualquer homem de bem que nela desejasse ingressar e é neste momento que nasce a Maçonaria Moderna ou especulativa ou filosófica. Em 24 de junho de 1717 é que se forma em Londres a primeira Grande Loja Maçônica. A partir de 1719 a Maçonaria desenvolveu tendências filantrópicas. Em 1723 foi aprovado o Livro das Constituições maçônicas (Constituição dos Maçons Livres), elaborada por James Anderson (1679-1739), presbítero londrino e diplomado em filosofia, documento também conhecido como a Constituição de Anderson e a maioria das lojas a adotaram. Tal documento propaga uma doutrina humanitária, deísta espiritualista, aberta a todos os cristãos, qualquer que fosse a sua seita, e leal aos poderes públicos. A Maçonaria concede a seus membros a liberdade de culto e exige de seus membros a crença em um único Deus, “O Grande Arquiteto do Universo”, referência ao Criador do mundo material independentemente de uma crença ou religião específica. Entretanto, este conceito não existe no Budismo, posto que para este não exista começo nem fim, criação ou céu, ao contrário do Hinduísmo que em seu texto máximo o Rig Vedas diz que no começo dos tempos o mundo estava submerso na escuridão. De qualquer maneira, com ligeiras modificações, as Quatro Nobres Verdades e os Oito Nobres Caminhos estão presentes na doutrina maçônica. Sua origem medieval está presente em seus símbolos que são instrumentos de trabalho de pedreiros como, por exemplo, o esquadro, o compasso, o prumo, a régua, o nível, etc. Todo maçom deve ter como premissa a construção. Construção do templo da virtude e da verdade, construção de si mesmo, de seu caráter e de sua personalidade. Construção de um mundo melhor.
O papa Clemente XII (1652-1740) na bula papal denominada In Eminenti Apostolatus Specula de 28 de abril de 1728 acusa os maçons de heresia ameaçando os católicos que da Maçonaria se aproximassem seriam excomungados. Depois desta primeira condenação seguiram-se mais de vinte sendo que a última data de 1902 pelo papa Leão XIII (1810-1903) chamada a encíclica Annum Ingressi onde alertava a todos os bispos um combate eficaz contra a Maçonaria. Na Itália, Polônia, Portugal e Espanha os maçons foram perseguidos pela Inquisição e condenados a morte. A partir disso os maçons passaram a se reunir secretamente obrigando-os a não revelarem sua condição de maçom. A proibição da Igreja Católica de seus fies tornarem-se maçons se respalda, basicamente, na ideia de que a sociedade cultue a divinização do ser humano, porém isso não significa que todos os maçons deem sua adesão a esta doutrina e, considerando que uma Loja não sabe o que a outra está fazendo, a Maçonaria não pode ser considerada como uma entidade unificada nem em escala nacional. Portanto, está longe de se constituir num poder secreto com o objetivo de denominar o país, o continente ou o mundo como querem crer alguns.
A primeira Loja Maçônica no Brasil foi fundada em Salvador no ano de 1724. Não se pode negar a participação da maçonaria em momentos decisivos da História do Brasil. Na Inconfidência Mineira a Maçonaria estava presente. Todos os conjurados, sem exceção, pertenciam à Maçonaria: Tiradentes (1746-1792), Thomas Antonio Gonzaga (1744-1810), Cláudio Manoel da Costa (1729-1789), Alvarenga Peixoto (1742/44-1792/3) e o traidor Joaquim Silvério dos Reis (1756-1819). Francisco Antonio Lisboa (1730 ou 1738-1814), o Aleijadinho, pertencia à ordem maçônica. Em suas obras podem-se notar símbolos da maçonaria como os três anjinhos formando um triângulo, um dos símbolos da sociedade. A bandeira do estado de Minas Gerais com o triângulo inspira-se no delta luminoso, o Olho da Sabedoria.
D. Pedro I (1798-1834) foi iniciado na Loja Maçônica Comércio e Artes nº 1 do Grande Oriente do Brasil, no Rio de Janeiro, no inicio de agosto de 1822 e no dia 22 do mesmo mês os maçons se reuniram redigindo um documento que declarava a independência do Brasil. Portanto, o grito de independência já estava decidido. Ninguém ignora também que o Brasil já estava praticamente desligado de Portugal, desde 9 de janeiro de 1822, o dia do Fico, articulado pela Maçonaria sob a liderança de José Joaquim da Rocha (1777-1848) foi fundado o Clube da Resistência, o verdadeiro organizador dos episódios de que resultou na decisão de D. Pedro I permanecer no Brasil. A libertação dos escravos foi uma iniciativa da Maçonaria, note-se que os líderes abolicionistas eram maçons (Visconde de Rio Branco, 1819-1880; José do Patrocínio, 1853-1905; Joaquim Nabuco, 1849-1910; Eusébio de Queiroz, 1812-1868; Quintino Bocaiúva, 1836-1912; Rui Barbosa, 1849-1923; Cristiano Otoni, 1811-1896; Castro Alves, 1847-1871). Na Proclamação da República os maçons também estiveram presentes. A República brasileira existe pela aliança da Igreja Católica com uma seção da Maçonaria que estava descontente com o imperador que, por seu turno, era maçom. O primeiro ministério da República, sem exceção de um só ministro, foi constituído de maçons organizado por Quintino Bocaiúva, que havia sido grão-mestre.
Interior Loja Maçônica na Pensilvania, EUA
Interior de Loja maçônica no Brasil
Não é adequado identificar a Maçonaria como sociedade secreta, posto que o conceito de secreta nos remeta a algo que não pode ser revelado. Seus locais de reunião e horários são conhecidos, suas propriedades, Constituições, Emendas, Regimentos e Estatutos são registrados em cartório de imóveis, títulos e documentos e publicados em Diário Oficial e sua existência não é negada por seus membros, portanto, não se enquadram na definição de secreta. Contudo, os rituais para a admissão e os sinais para que os maçons se reconheçam são secretos, mas isso pode ser definido como algumas ações reservadas que interessam somente aos seus membros. No vocabulário maçônico moderno a palavra segredo traduz-se por discrição. A Maçonaria não é uma religião ou entidade antirreligiosa, posto que seus membros devam afirmar a crença em um Deus, as Lojas são independentes e algumas se utilizam da Bíblia, do Torá ou do Alcorão em suas reuniões e tal diversidade abre espaço para diferentes interpretações dos símbolos maçônicos. Não é um partido político, pelo menos dentro da definição formal e moderna; também não está caracterizada como uma sociedade de auxílio mútuo, porém quando um de seus membros precisa ser socorrido a entidade mobiliza-se em seu auxílio dentro das possibilidades de seus membros. Porque, caso fosse, então haveríamos de assim também classificar as Igrejas que socorrem seus membros. A Maçonaria não convida ninguém para dela fazer parte, a pessoa interessada é que deve procurar, espontaneamente, uma Loja ou ser indicado por um Mestre Maçom. E há um número expressivo de exigências a serem cumpridas pelos candidatos de ordem legal (maioridade, integridade, emprego e domicílio fixos, etc.), doutrinária (crer em um Deus, religiosidade, distinguir religião de Maçonaria, etc.), prática (apresentar bons costumes, ter boa família, cumprir as leis), metafísica (receptivo às ideias, alinhar-se ideologicamente à ideia de Deus), tradicional (apto, disposto, capacitado) e iniciática (respeitar o processo, os candidatos devem ser aceitos por todos os maçons, submeter-se à sindicância, assumir compromissos e responsabilidades, etc.). Apesar da rigidez das normas para o ingresso na Maçonaria ela também apresenta falhas como qualquer outra instituição humana, exemplo disso é o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda (preso e cassado por corrupção) que dela fizesse parte sendo Mestre Maçom Grau 3 da Augusta e Respeitável Loja Simbólica “Areópago de Brasília”, nº 3001, filiada ao Grande Oriente do Brasil, no DF. O ex-governador José Roberto Arruda colocou em seu governo alguns companheiros de Maçonaria. Entidades ligadas aos maçons foram favorecidas com contratos com o governo do Distrito Federal. Uma delas é a Fundação Gonçalves Ledo que, sem participar de licitação pública, foi contemplada com um contrato de mais de R$ 30 milhões, via Secretaria de Ciência e Tecnologia (Projeto DF Digital). Arruda foi expulso, mas o estrago já estava feito.
Uma das questões que mais alimenta o imaginário coletivo é quanto a não admissão de mulheres em seu seio. De acordo com o que apuramos a entidade mantém-se fiel a uma antiga regulamentação que diz, textualmente, “As pessoas admitidas como membros de uma Loja devem ser homens bons e de princípios virtuosos, nascidos livres de idade madura, sem vínculos que o privem de pensar livremente, sendo vedada a admissão de mulheres assim como homens de comportamento duvidoso ou imoral.” Afirma-se, pois, que estão seguindo apenas uma tradição herdada dos antigos maçons operativos. Ressaltamos que em algumas raras ocasiões algumas mulheres chegaram a acessar várias corporações antes da Maçonaria especulativa. No imaginário popular atribuem-se inúmeras razões para o fato da entidade não admitir mulheres, mas a Igreja Católica restringe o acesso das mulheres aos seus postos mais visíveis e também de comando e nem por isso vê-se envolta em questionamentos que sugiram mistérios, rituais secretos e coisas piores. Mesmo após o movimento feminista deflagrado na década de 1960 e as suas inúmeras conquistas a mulher ainda sofre discriminação, explícita ou implícita. Na Maçonaria existe a Ordem Internacional Arco-Íris para Meninas da Ordem Internacional DeMolay fundada em 1919 em Kansas, Missouri, EUA, (Jacques DeMolay foi o último dos cavaleiros Templários executado pela Inquisição em 1314). Até 1949 a Maçonaria feminina atuava em conjunto com o Grande Oriente do Brasil e a partir deste ano seguiram sozinhas e denomina-se Grande Oriente Feminino do Brasil. Há uma imensa gama de artigos escritos satanizando a Maçonaria com uma ferocidade assombrosa. No entanto, em todas as refutações que tive a oportunidade de estudar os argumentos oferecidos se sustentam em passagens das Sagradas Escrituras e, portanto, nesta perspectiva, fica patente a ligação da sociedade com Lúcifer. Mas, convenhamos, dentro da perspectiva religiosa cristã existe um sem número de elementos que, de alguma forma e em algum momento, estão relacionados com o diabo. Excluindo-se a perspectiva divina e adotando critérios que possam avaliar a Maçonaria como entidade juridicamente constituída e suas ações no sentido de acatar as leis, preservar a ordem, etc. verificaremos que jamais foi uma sociedade nociva à nação brasileira (ao contrário do Fórum de São Paulo onde só tem gente da pior espécie e ninguém o combate). A própria independência entre as lojas maçônicas e as diversidades entre umas e outras impedem que se articulem e construam um consenso que possa ameaçar as instituições da República. Certamente que abrigará em seu seio homens mal intencionado, mas isto não é um privilégio da Maçonaria, tendo-se em conta que estão presentes em todos os recantos da Terra. O que devemos temer e lutar é contra a devastadora atuação da elite socialista Fabiana globalista que vem destruindo, corroendo e solapando-nos diuturnamente.
Charge da época onde o papa Pio IX aplica a palmatória no imperador D.Pedro II
No Segundo Império tivemos a Questão Religiosa em 1870, conflito decorrente de um enfrentamento entre a Igreja Católica e a Maçonaria cujas causas remontam às divergências entre o catolicismo ultramontano (doutrina política católica que reforça e defende o poder e as prerrogativas do papa em matéria de disciplina e fé), o liberalismo (sistema político-econômico baseado na defesa da liberdade individual nos campos econômico, político, religioso e intelectual, contra as ingerências e atitudes coercitivas do poder estatal) e o regime do padroado (criado através de um tratado entre a Igreja Católica e os Reinos de Portugal e de Espanha. A Igreja delegava aos monarcas destes reinos ibéricos a administração e organização da Igreja Católica em seus domínios. O rei mandava construir igrejas, nomeava os padres e os bispos, sendo estes depois aprovados pelo papa), mas deste assunto trataremos em outra oportunidade.
Na Primeira Igreja Batista de Niterói (RJ) se instalou uma crise por conta da presença de maçons em sua liderança. Há o depoimento de um diácono que alega não haver contradição alguma em declarar-se maçom praticante há trinta anos e cristão há vinte e oito anos. A polêmica em torno da adesão de evangélicos à Maçonaria já provocou até racha numa das maiores denominações do país, a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), no início do século passado. Quando a Igreja proíbe que seus membros ingressem e/ou participem da Maçonaria (ou de qualquer outra coisa) está coerente com os seus princípios doutrinários e, portanto, caberá a seu membro fazer uma opção e, caso não faça, abriu espaço para que dela seja excluído. Por exemplo, os católicos são proibidos de envolverem-se com o comunismo, mas se a Igreja expulsar todos os seus membros ligados ao comunismo certamente contarão com um número apreciável de lugares vagos, a começar pelo seu comando. Portanto, a Maçonaria pode ser vista sob duas perspectivas. A divina e a humana. O que não deveria acontecer é que o julgamento da primeira não anule, minimize ou despreze os resultados positivos alcançados pela segunda. Os maçons estiveram presentes na Independência dos Estados Unidos, na Revolução Francesa, na Inconfidência Mineira, na Independência do Brasil, na Abolição da Escravatura, na Proclamação da República, etc. Discriminá-los, desprezá-los, desrespeitá-los ou ignorá-los vai muito além de uma grosseria. Uma atitude nestes sentidos revela a nossa ignorância e preconceito.
CELSO BOTELHO
23.10.2012